An Extensible Argumentation Model for Ontology Matching Negotiation

Supervised by
Professor Nuno Alexandre Pinto da Silva (ISEP)
Professor José Carlos Silva Cardoso (UTAD)


Abstract

With the advent of new technological and socio-organizational paradigms raised by the globalization phenomenon, information and communication systems are facing unprecedented levels of distribution, heterogeneity and evolution. In this context, many applications/scenarios see the ontology matching process as an appropriate approach to overcome such heterogeneity since it is able to define an alignment between two ontologies at the conceptual level, which in turn is further exploited to enhance interoperability between applications and/or systems.

Due to the subjective nature of ontologies, context, preferences, interests and alignment requirements, different systems have contradictory and inconsistent perspectives about the alignment. Consequently, conflicts arise between systems about the best alignment to use.

To address such conflicts, ontology matching negotiation arises as promising approach enabling systems to establish a consensual alignment between their ontologies. There are two kinds of ontology matching negotiation approaches: (i) concession-based approaches and (ii) argument-based approaches.

The first contribution of this thesis is the identification and description of several limitations in the state-of-the-art. These limitations drove the research efforts described in this thesis in order to overcome them.

This thesis focus on researching argumentation-based (semi-) automatic negotiation approaches and methodologies that exploit existing ontology matching tools in order to permit heterogeneous applications/systems to overcome potentially existing divergences in establishing a consensual ontology alignment, and consequently facilitating their interoperability.

Despite the focus of the thesis, several of the presented contributions go beyond the ontology matching negotiation domain, such that they are also applicable in a diversity of domains including e-commerce, legal reasoning and decision making. In this particular, two generic contributions are highlighted.

The first generic contribution is the proposal of an iterative and incremental argument-based negotiation process that promotes the adoption of an explicit, formal and extensible specification of a shared argumentation model between argument-based negotiating agents. Argumentation is adopted by the negotiating agents as a modeling formalism for theoretical and practical reasoning and, therefore, governing the internal and external agents’ behavior.

The second contribution concerns the specification of a general argumentation framework that (i) comprehends a conceptualization layer to capture the semantics of the argumentation data employed in a specific context and (ii) provides modularity and extensibility features that simplify its adoption by argumentation systems. Yet, it also adopts a general and intuitive argument structure which is largely accepted by the argumentation community.

Finally, a third contribution concerns the application of the previous generic contributions to the ontology matching negotiation domain. The novel argument-based negotiation approach exploits and profits from these generic contributions to overcome (most of) the limitations previously identified in the state-of-the-art on argument-based ontology matching negotiation.

Accordingly, the dichotomy and the symbiosis between the generic contributions and ontology matching negotiation contributions are intrinsic and an essential part of this thesis.


Resumo Alargado

O processo de Mapeamento de Ontologias consiste em definir ao nível conceptual um conjunto de correspondências semânticas entre entidades de duas ontologias distintas: cada uma descrevendo a informação capturada num determinado sistema de informação e/ou comunicação. O resultado deste processo denomina-se alinhamento, e é posteriormente explorado de diferentes formas para superar a heterogeneidade existente entre os sistemas e permitir a sua interoperabilidade, nomeadamente em: transformação de dados [Sheth and Larson 1990; Bernstein and Rahm 2000], integração de informação [Halevy et al. 2005; Wache et al. 2001; Draper, Halevy, and Weld 2001], visualização de informação [Gilson et al. 2008], comunicação entre agentes em sistemas multiagente [Eijk et al. 2001; Wiesman, Roos, and Vogt 2001; Bailin and Truszkowski 2003], partilha de informação em sistema ponto-a-ponto (peer-to-peer) [Zaihrayeu 2006], resposta a inquéritos (query answering) [Lopez, Motta, and Uren 2006; Mena et al. 1996] ou navegação na web semântica [Sabou, Lopez, and Motta 2006]. Contudo, devido à natureza subjectiva das ontologias, ao contexto, às preferências, interesses e requisitos de mapeamento, diferentes sistemas têm perspetivas contraditórias e inconsistentes sobre as correspondências, o que conduz ao surgimento de conflitos entre os sistemas sobre o alinhamento a adotar.

O trabalho realizado tem por objectivo pesquisar abordagens e metodologias (semi-) automáticas de negociação baseadas em argumentos que explorem as ferramentas de mapeamento de ontologias já existentes e conduzam sistemas heterogêneos a superar conflitos na obtenção de um alinhamento consensual entre as suas ontologias.

Com vista à resolução de conflitos e à obtenção de melhores acordos entre os sistemas negociadores, esta tese defende a necessidade e os benefícios da adoção de uma especificação explícita, formal, extensível e partilhada de um modelo de argumentação.

Genericamente, o trabalhado descrito nesta tese está dividido em sete partes, que correspondem ao longo do documento a outros tantos capítulos:

  1. Conhecimentos Requeridos;
  2. Estado da Arte;
  3. Processo de Negociação baseado em Argumentos;
  4. TLAF: Estrutura de Argumentação em Três Camadas;
  5. Negociação do Alinhamento;
  6. Extensibilidade e Modularidade na TLAF;
  7. Experiências.

As secções seguintes descrevem sumariamente o conteúdo de cada uma destas partes, com especial enfoco no trabalho desenvolvido e nos resultados mais relevantes. Posteriormente, na última secção apresenta-se uma síntese do trabalho desenvolvido e alguns indicadores da relevância da investigação realizada.

1. Conhecimentos Requeridos

O trabalho descrito ao longo da tese explora e relaciona principalmente três áreas de conhecimento: (i) agentes e sistemas baseados em agentes, (ii) mapeamento de ontologias e (iii) argumentação e sistemas baseados em argumentação. Os conceitos e princípios fundamentais de cada uma destas áreas são sumariamente apresentados.

Um agente é uma entidade que observa e atua num ambiente em representação de pessoas e organizações com o propósito de concretizar os seus objetivos [Wooldridge and Jennings 1995; Wooldridge 2000]. Um sistema multiagente consiste num conjunto de agentes autónomos que interagem com outros agentes de forma semelhante ao que as pessoas e as organizações fazem no dia-a-dia. Neste contexto, a adoção de técnicas de argumentação podem ser exploradas pelo agente:

  • Internamente: para determinar (i) em que acreditar (raciocíonio teórico) e (ii) o que fazer (raciocínio prático);
  • Externamente: para interação com os outros agentes. Nomeadamente em diálogos envolvendo negociação, deliberação e persuasão [Walton and Krabbe 1995].

O processo de mapeamento de ontologias pode ser visto como uma função que dado um par de ontologias a mapear, um conjunto de parâmetros e um conjunto de recursos, retorna um conjunto de correspondências entre as entidades das ontologias a mapear [Euzenat and Shvaiko 2007]. Este deve ter em consideração os diversos tipos de heterogeneidade que podem existir simultâneamente: (i) sintática, (ii) terminológica, (iii) conceptual and (iv) pragmática. Os algoritmos de mapeamento são normalmente classificados como: (i) simples se apenas exploram um critério de mapeamento ou (ii) complexos se exploram mais do que um critério de mapeamento [Rahm and Bernstein 2001]. Os critérios de mapeamento têm em consideração diversas dimensões como a granularidade (ex.: ao nível do elemento, ao nível da estrutura) e a interpretação da informação de entrada (ex.: interpretação sintática, lexical) [Shvaiko and Euzenat 2005]. Tipicamente, um sistema de mapeamento de ontologias explora vários algoritmos simples com competências diferentes e complementares [Euzenat and Shvaiko 2007]. Estes recorrem a vários métodos de filtragem [Ehrig and Sure 2004; Do and Rahm 2002; Melnik, Rahm, and Bernstein 2003] e de agregação [Ji, Haase, and Qi 2008] dos alinhamentos resultantes de forma a fornecerem como saída um único alinhamento. A seleção de um sistema de mapeamento deve ter em consideração tanto as ontologias a mapear como o problema a ser resolvido pelo alinhamento resultante [Euzenat and Shvaiko 2007].

As estruturas (frameworks) de argumentação abstratas são formalismos adequados para representar vários cenários diferentes, sem comprometimento com qualquer domínio de aplicação. Nestas estruturas (ex.: AF [Dung 1995], BAF [Cayrol and Lagasquie-Schiex 2005], VAF [Bench-Capon 2003]) um argumento é algo que pode atacar/suportar ou ser atacado/suportado por um outro argumento. A ausência de uma estrutura e semântica interna do argumento torna estes formalismos adequados ao estudo de propriedades independentes relevantes para qualquer contexto de argumentação, nomeadamente a aceitabilidade de argumentos [Baroni and Giacomin 2009]. Contudo, esta abstração também representa uma limitação de expressividade para a sua adoção direta num contexto de aplicação específico. Assim, normalmente os sistemas de argumentação adotam um destes formalismos abstratos e estendem-no de modo a obter um formalismo menos abstrato que especifique:

  • A construção de argumentos e a sua estrutura interna;
  • As condições em que um argumento ataca e/ou suporta outro argumento;
  • As condições em que um argumento derrota outro.

Apesar desta situação ser recorrente, as estruturas de argumentação abstratas não contemplam qualquer funcionalidade que facilite e reja o processo de extensão da mesma.

Relativamente à aceitabilidade de argumentos, uma extensão preferida (preferred extension) é um subconjunto do conjunto de argumentos conhecidos que representa uma posição consistente e defensável contra qualquer ataque, e não pode ser estendido (aumentado) sem introduzir um conflito. Para o mesmo conjunto de argumentos é possível existirem múltiplas extensões preferidas.

2. Estado da Arte

Na literatura relativa à obtenção de um alinhamento consensual entre agentes existem dois tipos de abordagens diferentes.

A primeira abordagem adota uma negociação baseada em mecanismos de relaxação [Silva, Maio, and Rocha 2005; Maio et al. 2006]. Nesta abordagem, cada agente classifica as diversas correspondências em obrigatórias, propostas, negociáveis, rejeitadas e eliminadas. Posteriormente, as exigências sobre as correspondências são relaxadas interna e privadamente por cada agente na expectativa do seu oponente proceder da mesma forma. A obtenção de um acordo sobre o alinhamento a usar resulta da avaliação dos ganhos e perdas obtidos por cada agente. A principal limitação desta abordagem advém da dificuldade de especificação das funções associadas aos mecanismos de relaxação e de medição dos ganhos e perdas de cada agente.

A segunda abordagem adota uma negociação baseada na troca de argumentos entre os agentes [Laera et al. 2007; Paul Doran et al. 2010]. Esta assenta numa estrutura de argumentação abstrata que captura (i) os argumentos existentes, (ii) as relações de ataque entre argumentos e (iii) o valor promovido por cada argumento. Normalmente, estes valores correspondem a tipos de argumentos. Neste caso particular, os valores possíveis advém da classificação dos algoritmos de mapeamento em cinco categorias distintas: Terminológico, Estrutural Interno, Estrutural Externo, Semântico e Extensional. Cada agente estabelece uma ordem de preferência sobre estes valores que é posteriormente explorada para avaliar o sucesso/insucesso dos ataques entre argumentos. Um ataque é bem sucedido quando o valor promovido pelo argumento que ataca é tão ou mais preferido que o valor promovido pelo argumento atacado. Assim, um agente altera a sua posição relativamente à inclusão ou exclusão de uma dada correspondência do alinhamento a acordar se o seu oponente apresentar argumentos que sob o seu ponto de vista são mais valiosos. Apesar da simplicidade e da eficácia desta abordagem, esta sofre de diversas limitações, nomeadamente:

  • Os agentes usam um único e comum repositório de correspondências para obtenção de correspondências a partir das quais geram argumentos. Este facto é visto como uma limitação à autonomia dos agentes;
  • Apenas o conceito de refutação (rebuttal) de argumentos é formalmente explorado na deteção de ataques entre argumentos;
  • Os agentes não têm a possibilidade de capturar possíveis dependências entre correspondências e consequentemente ter em consideração o efeito positivo ou negativo da aceitação/rejeição de uma correspondência noutra correspondência;
  • Devido ao processo de geração de argumentos adotado, formalmente um argumento apenas ataca e é atacado por um argumento que conclua a negação da sua conclusão. Consequentemente os ataques entre argumentos são sempre simétricos;
  • Os agentes não podem expressar preferências sobre os argumentos através da combinação dos diversos tipos de argumentos. Por exemplo, um argumento do tipo terminológico é preferido relativamente a argumentos do tipo estrutural externo e estrutural interno, exceto se estes dois tipos de argumentos existem e estão de acordo entre si;
  • Não está contemplada a possibilidade de cada agente poder usar internamente outros tipos de argumentos para além dos que estão prévia e comummente estabelecidos entre os agentes;
  • Dadas as limitações apontadas a esta abordagem, decidiu-se seguir uma linha de investigação diferente.

3. Processo de Negociação baseado em Argumentos

O processo de negociação baseado em argumentos proposto é suficientemente genérico para ser adotado em vários domínios de aplicação como, por exemplo, o mapeamento de ontologias, o comércio electrónico e sistemas de apoio à decisão.

Este processo segue uma abordagem iterativa e incremental de troca de argumentos e contr-argumentos semelhante à observada num cenário de argumentação entre humanos. Nesse sentido, o processo define e explora a noção de modelo de argumentação. Neste contexto, um modelo de argumentação é um artefacto que captura (parcial ou totalmente) a percepção e racionalidade que um agente tem relativamente ao processo de argumentação sobre um domínio específico (ex.: mapeamento de ontologias). Assim, assumindo que a negociação ocorre no âmbito de uma comunidade de agentes, esta é capaz de definir um modelo de argumentação público sobre o domínio de aplicação em causa que é partilhado, aceite e compreendido por todos os seus membros. Internamente, cada agente tem a possibilidade de evoluir o modelo de argumentação público de modo a que este reflita melhor as suas necessidades e conhecimento. O resultado dessa evolução denomina-se modelo de argumentação privado. Com base nestes pressupostos e sob a perspectiva de um agente sistematizou-se e organizou-se as diversas fases/tarefas do processo de negociação, identificou-se os principais blocos de dados e o seu fluxo, bem como os diversos atores e o seu papel no processo de negociação.

As fases do processo de negociação proposto são:

  • Configuração (Setup): é nesta fase que os agentes estabelecem o contexto da negociação através da identificação dos agentes participantes na negociação, definição de parâmetros e restrições à negociação (ex.: tempo máximo de duração, qual o modelo de argumentação público a adotar). Contrariamente às outras fases, esta apenas ocorre uma vez;
  • Aquisição de Dados: é nesta fase que cada agente identifica e seleciona as fontes de informação (ex.: outros agentes) que lhe providenciará a informação necessária à geração dos argumentos compreendidos no seu modelo de argumentação;
  • Instanciação do Modelo de Argumentação: é nesta fase que o agente transforma a informação recolhida na fase anterior em argumentos;
  • Avaliação dos Argumentos: é nesta fase que o agente avalia os argumentos existentes e as relações de ataque e suporte existentes entre eles. Posteriomente, seleciona os argumentos que constituem a sua extensão preferida;
  • Tentativa de Acordo: é nesta fase que cada agente apresenta a sua proposta de acordo. Da análise das diversas propostas resulta: (i) um acordo candidato e (ii) a identificação dos conflitos existentes entre os vários participantes. Com base nisto os agentes decidem entre:
    • Continuar o processo de negociação e consequentemente prosseguirem para a fase de persuasão;
    • Terminar a negociação:
      • Com sucesso, se os agentes aceitam o acordo candidato. Neste caso, os agentes prosseguem para a fase de Aceitação de Acordo;
      • Sem sucesso, se os agentes não aceitam o acordo candidato e não pretendem continuar a negociar. Neste caso, a negociação termina sem um acordo;
  • Persuasão: é nesta fase que relativamente aos conflitos identificados na fase anterior os agentes trocam argumentos entre si no sentido de persuadirem os seus oponentes a reverem/alterarem a sua posição;
  • Refinamento do Modelo de Argumentação: esta fase é tem por objectivo permitir aos agentes evoluírem o modelo de argumentação público que estão a usar de modo a que este reflita melhor a conceptualização da comunidade quanto aos argumentos trocados. Esta fase é opcional;
  • Atualização da Base Conhecimento: nesta fase cada agente analisa, processa e possivelmente reclassifica os argumentos recebidos durante a fase de persuasão. Como resultado, existirão argumentos que serão adicionados à sua base de conhecimentos e outros que serão ignorados por já serem conhecidos. Os argumentos adicionados são tidos em consideração na próxima ronda de propostas. O processo de negociação prossegue novamente para a fase de Aquisição de Dados;
  • Aceitação de Acordo: é nesta fase que os agentes transformam o acordo candidato num acordo definitivo. Esta fase é vista como iniciadora de um conjunto de transações que visam satisfazer os termos acordados.

4. TLAF: Estrutura de Argumentação em Três Camadas

As estruturas de argumentação abstratas não contemplam uma camada de modelação que satisfaça a noção de modelo de argumentação introduzida pelo processo de negociação proposto. Para suprir esta lacuna e com o intuito de reduzir o fosso existente entre as estruturas de argumentação abstratas e os sistemas de argumentação foi proposta uma nova estrutura de argumentação genérica, ou seja, independente do domínio de aplicação mas menos abstrata que as já existentes, denominada TLAF (Three-Layer Argumentation Framework). As novidades introduzidas por esta estrtura são:

  • Adoção de uma estrutura de argumento geral e intuitiva em que um argumento é composto por três elementos distintos:
    • Um conjunto de premissas;
    • Uma conclusão; e
    • Um processo de inferência que partindo das premisas permite obter a conclusão especificada;
    As premissas e as conclusões dos argumentos são capturadas sob a forma de declarações/afirmações (statement) .
  • Contempla uma camada conceptual para capturar o conhecimento (estrutura e semântica) usado num determinado domínio de aplicação de forma que este possa ser partilhado e reutilizado. Permite a especificação formal e explícita de uma conceptualização de um domínio de argumentação, satisfazendo, assim, a noção de modelo de argumentação introduzida anteriormente. O conteúdo desta camada depende diretamente do domínio de aplicação a ser capturado e da percepção que alguém (ex.: um agente ou uma comunidade de agentes) tem sobre esse domínio;
  • Explora a informação conceptual capturada e a estrutura dos argumentos adotada para automaticamente derivar as relações de suporte e de ataque existente entre argumentos.

É responsabilidade dos sistemas de argumentação que adotarem a TLAF definirem uma estrutura complementar adequada para as declarações e para os mecanismos de inferência usados no domínio de aplicação.

Apesar do processo de geração de argumentos ser totalmente dependente do domínio de aplicação, este beneficia do conhecimento capturado na camada conceptual para, por exemplo, restringir as conclusões e as premisas associadas a um argumento.

No que diz respeito à avaliação dos argumentos com vista à extração de uma extensão preferida, os sistemas que adotarem a TLAF poderão continuar a utilizar os métodos já existentes associados às estruturas de argumentação abstratas [Baroni and Giacomin 2009]. Contudo, os processos existentes que exploram a bipolaridade advinda das relações de ataque e suporte entre argumentos não são capazes de lidar com relações cíclicas entre argumentos nem de tirar partido da informação capturada na camada conceptual da TLAF [C. Cayrol and Lagasquie-Schiex 2005b; L. Amgoud et al. 2008; Karacapilidis and Papadias 2001; Verheij 2002]. Para superar estas limitações foi proposto um método de avaliação dos argumentos baseado em funções.

5. Negociação do Alinhamento

A abordagem seguida para a resolução de conflitos entre sistemas sobre o alinhamento a adoptar para as suas ontologias explora tanto o processo de negociação baseado em argumentos como a TLAF propostos anteriormente. Considerando que cada sistema/agente representa uma ontologia, assumiu-se que a negociação é bilateral, i.e. ocorre apenas entre dois agentes e que cada agente usa um modelo de argumentação privado que estende o modelo de argumentação público da comunidade de agentes.

A abordagem proposta pode, então, ser sumariamente descrita da seguinte forma:

  • Na fase de Configuração cada agente informa o seu oponente da ontologia que está a usar e são pré-definidos alguns requisitos sobre o alinhamento a acordar;
  • O resultado da fase de Aquisição de Dados é um conjunto de correspondências obtidas de vários algoritmos de mapeamento internos ou externos ao agente. É da responsabilidade do agente selecionar esses algoritmos;
  • Na fase de Instanciação do Modelo de Argumentação é proposto um processo automático de geração de argumentos baseado num conjunto de parâmetros de entrada e em duas funções:
    • Função de interpretação de correspondências: permite transformar as correspondências obtidas na fase anterior em declarações (conclusões) e gerar por cada um argumento concluindo essa mesma declaração;
    • Função de Condições: permite atribuir a cada argumento as declarações usadas como premissas e estabelecer conflitos (inconsistências) entre declarações;
  • Na fase de Avaliação dos Argumentos adota-se o processo de avaliação de argumentos introduzido pela TLAF e analisa-se as dimensões a ter em consideração na especificação das funções de avaliação, nomeadamente a dimensão quantitativa, qualitativa e força dos argumentos. São ainda apresentados alguns princípios com vista a sua combinação;
  • Na fase de Tentativa de Acordo, adota-se o princípio da unanimidade entre os agentes negociadores para a computação de um acordo candidato e identificação dos conflitos existentes. O processo de decisão sobre a aceitação de um acordo candidato pelos agentes não é especificado;
  • As fases de Persuasão e de Atualização Base Conhecimento encontram-se simplificadas visto que os agentes partilham o mesmo formalismo de representação de argumentos (TLAF).

As restantes fases (Refinamento do Modelo de Argumentação e Aceitação do Acordo) não são abordadas.

As contribuições apresentadas permitem suprir na totalidade as limitações anteriormente identificadas nas abordagens de negociação de mapeamento de ontologias baseada em argumentos.

6. Extensibilidade e Modularidade na TLAF

A abordagem descrita anteriormente exige que os agentes tenham capacidade para estender o modelo de argumentação público de forma a facilitar a exploração de conhecimento que não é compartilhado e consequentemente usufruir desse conhecimento. Como a TLAF carece de funcionalidades de modularidade e extensibilidade, propõe-se a inclusão dos construtores necessários a fornecer essas funcionalidades juntamente com a semântica respectiva. A estrutura de argumentação resultante dessa extensão denomina-se EAF (Extensible Argumentation Framewrok) e mantém todas as caracteristicas da TLAF.

Dado que a EAF é independente do domínio, a sua adoção no processo de negociação de mapeamento de ontologias implica alterações mínimas no processo de argumentação interno do agente e no processo de troca de argumentação. Estas alterações são descritas através de um exemplo demonstrativo de como as funcionalidades introduzidas podem ser exploradas, nomeadamente na fase de Persuasão.

7. Experiências

Com o intuito de avaliar a eficácia do processo de negociação de mapeamento de ontologias proposto adotou-se uma abordagem empírica. As experiências realizadas visam três objectivos fundamentais:

  • Comparar os resultados do processo proposto com as abordagens baseadas em argumentos já existentes;
  • Avaliar o efeito produzido pela capacidade dos agentes em capturarem dependências entre correspondências;
  • Mostrar a relevância dos construtores introduzidos pela EAF no processo de negociação e mais concretamente nos resultados obtidos.

As experiências realizadas são analisadas atendendo a dois critérios distintos:

  • A quantidade de conflitos resolvidos e a qualidade dessa resolução;
  • A qualidade global do alinhamento acordado entre os agentes por comparação com os alinhamentos gerados pelos agentes antes do processo de negociação.

Em função dos resultados obtidos é possível concluir o seguinte:

  • As abordagens baseadas em argumentos existentes na literatura podem ser fielmente mimetizadas no processo de argumentação proposto. Para tal, é apenas necessário restringir adequadamente o processo de geração de argumentos proposto e utilizar funções de avaliação de argumentos equivalentes;
  • Alterando apenas as funções de avaliação dos argumentos, o processo proposto supera as abordagens existentes, tanto em quantidade e qualidade de conflitos resolvidos como na qualidade do alinhamento acordado;
  • A capacidade para capturar dependências entre correspondências permite aumentar a qualidade dos conflitos resolvidos e do alinhamento acordado;
  • A possibilidade de os agentes estenderem privadamente o modelo de argumentação público permite-lhes melhorar as suas capacidades de mapeamento e consequentemente reduzir a quantidade de conflitos a resolver pelo processo de negociação;
  • Os construtores introduzidos pela EAF quando utilizados na extensão do modelo de argumentação público em combinação com a capacidade de reclassificação de argumentos potencia a capacidade de persuasão dos agentes e conduz a um aumento tanto da qualidade do alinhamento acordado como dos conflitos resolvidos.

8. Resultados Atingidos

Apesar da ênfase inicial do trabalho de investigação descrito ser a resolução através de argumentação de conflitos resultantes de diferentes perspetivas sobre o processo de mapeamento de ontologias, à medida que o trabalho de investigação progrediu as contribuições resultantes tornaram-se mais genéricas e, consequentemente, aplicáveis a outros domínios de aplicação onde a resolução de conflitos também é necessária. Assim, a ênfase inicial pode ser vista como um cenário de aplicação onde as contribuições genéricas foram aplicadas para superar as limitações identificadas na literatura, demonstrando assim a sua pertinência e aplicabilidade.

Consequentemente, conclusões sobre a aplicabilidade e validade das contribuições propostas devem ter em consideração a dicotomia e simbiose entre as contribuições genéricas e especificas de um domínio de aplicação. Sumariamente as contribuições apresentadas são:

  • Contribuições genéricas:
    • Processo iterativo e incremental de negociação baseado em argumentos. Este processo introduz a noção de modelo de argumentação e permite aos agentes usarem argumentação para raciocínio teórico e prático, tanto internamente como externamente;
    • Estrutura de argumentação genérica (TLAF/EAF) que captura e satisfaz a noção de modelo de argumentação introduzida pelo processo de negociação proposto. Contempla funcionalidades para capturar uma conceptualização de um domínio de aplicação de forma explícita, formal, extensível e partilhada. A TLAF/EAF reduze o fosso existente entre as estruturas de argumentação abstratas e os sistemas de argumentação;
  • Contribuições específicas do domínio de mapeamento de ontologias:
    • Identificação de várias limitações nas abordagens existentes de negociação baseadas em argumentos;
    • Proposta de um novo processo de negociação também baseado em argumentos que suprime a maioria das limitações identificadas nas abordagens existentes. Este processo explora as duas contribuições genéricas anteriormente mencionadas. Para isso, particularidades do domínio foram tomadas em consideração;
    • Proposta de um processo automático de geração de argumentos baseado em correspondências fornecidas por algoritmos/agentes de mapeamento de ontologias;
    • A capacidade intrínseca da abordagem proposta para acomodar mais ou menos tipos de argumentos, consoante os requisitos e conhecimentos dos agentes;

Embora conclusões formais não possam ser retiradas, a comparação das limitações do estado-da-arte com as contribuições propostas bem como as experiências efetuadas fornecem evidências sobre a validade da tese.